domingo, 12 de fevereiro de 2012

E se a Merkel tem razão?


Esta semana a Região despertou de rompante para as declarações de Angel Merkel, Chanceler do mais poderoso estado europeu.
Já disse publicamente que um chefe de estado não deve interferir na vida interna de outros países, em qualquer que seja a circunstância. O diálogo e a dialéctica entre países segue regras próprias e passa em grande parte pela abordagem diplomática de cada estado, mas sempre com elevado respeito institucional e cuidados extremos, evitando ingerências desnecessárias.
Mas se Merkel cometeu um lamentável excesso face a Portugal, os nossos governantes não estiveram melhor e o Presidente do Governo Regional demonstrou estar muito distante das exigências de um governante moderno, perspicaz e competente.  Jardim amplificou desnecessariamente os comentários de Merkel e transformou um episódio menor num possível problema maior. Existem pelo menos 3 razões que justificavam o silêncio público de Jardim: a negociação com a UE dos próximo pacote de ajudas europeias; a negociação com a UE dos benefícios fiscais para o CINM e o potencial fluxo de turistas alemães para a Madeira. Não entender isto é fazer da liderança governativa uma actividade de “tasqueiro que esbraceja por tudo e por nada”, muito longe dos desafios actuais.
Mas, como era de esperar, entre reprovações, indignações, exaltações e até as tontices do costume, ninguém discutiu o essencial das afirmações de Merkel: os fundos europeus foram (todos) bem utilizados na RAM? Poucos resistem à tentação de encontrar nesta atitude de Merkel uma ofensa à Madeira. Uns porque desconhecem a realidade outros por óbvio oportunismo partidário. Só há uma forma de clarificar: observar os factos.
Da análise da estrutura do investimento por sectores entre 2002 e 2010 conclui-se que o grande campeão do investimento público foi, sem margem para dúvidas, as Infraestruturas e equipamentos colectivos com um recorde de mais de 1500 ME ao longo da década (é preciso notar que estão excluídos destes montantes os investimentos públicos concretizados por entidades externas à esfera da administração directa e indirecta, designadamente de empresas públicas criadas precisamente para o efeito, como são o caso das 4 sociedades de desenvolvimento, cujo endividamento ascende a quase 700 ME). Esse investimento em infraestruturas correspondeu a 42% do investimento total, enquanto no desenvolvimento empresarial foi de 1,5% (Merkel criticou o excesso de investimento em infraestruturas face ao apoio às empresas!); na inovação foi de 0,3%; na educação de 6,1 (quase o mesmo que no desporto que foi de 6,3% do total). Portanto, parecem-me dados suficientes para reflectirmos todos. Não na Merkel mas em nós próprios!

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