quarta-feira, 27 de julho de 2011

Discurso de abertura na discussão do 3º orçamento rectificativo

Exmo. Senhor Presidente
Exmo. Senhor Secretário
Exmas Senhoras e Senhores deputados
Este é o terceiro remendo orçamental num mau orçamento. Mas, sobretudo, é mais um mau remendo, como aliás foram os anteriores.
Já tivemos todo o tipo de situações e propostas de rectificativo neste percurso orçamental de 2011, o que espelha uma desorientação sem limites. Infelizmente, não é inédito mas já extravasa o razoável e reflecte a ausência de planemento orçamental e, sobretudo, sensatez. Por isso, não é possível tratar de forma normal o que é verdadeiramente anormal.
O último episódio desta novela rocambolesca, e mesmo bizarra, foi um aumento da autorização do endividamento indirecto para alimentar a “montanha” de dividas de um sector público empresarial completamente falido mas, sobretudo, em perfeita “roda livre”, consumindo todos os recursos dos madeirenses e hipotecando os recursos futuros.
Na verdade, depois de 4000 ME de endividamento e com mais de 80% do sector públicos empresarial da RAM em falência técnica, é um sinal de total insensatez, injectar o que quer que seja nessas empresas.

Sejamos honestos, o tempo que vivemos não é o mesmo do final do ano de 2010, em que o PSD aprovou mais um, de tantos outros, aborto orçamental.
É bem verdade que o orçamento apresentado pelo governo do PSD M em Dezembro de 2010 já era mau, já era desajustado e completamente em sentido contrário com os interesses da Madeira.
Os poucos meses que passaram, desde essa altura, deram-nos razão: o orçamento regional de 2011 foi uma verdadeira peça de ficção e, sobretudo, foi o espelho do que é a política orçamental de um governo sem direcção e sem profundidade estratégica. Uma política aos solavancos e sem qualquer capacidade previsional.

Na verdade, se fosse necessário justificar, e comprovar, a mediocridade na gestão dos recursos públicos, bastava contar o número de vezes em que o PSD altera o orçamento e, sobretudo, a insensatez das alterações.
São mudanças quase sempre isoladas e longe, muito longe, de um plano sério e estruturado de reconfiguração das políticas que interessam ao futuro da Madeira.
Tratam-se de mudanças que retratam um défice de governança, falhas de planeamento e erros orçamentais. Mas pior. Reflectem ainda oportunidades desperdiçadas porque não traduzem uma mudança de pensamento e de políticas, tão determinantes e mesmo fundamentais nos tempos que vivemos.
Senhor Secretário permita-me que diga frontalmente,
Esta alteração orçamental são coisas de merceeiro...
Mas esta já é a terceira revisão do orçamento de 2011. E pode-se dizer com segurança que quanto mais o PSD e o governo regional mexe, pior é o resultado final.
São iniciativas e intervenções orçamentais que passam completamente ao lado do essencial, ficando ainda tudo por resolver do que é verdadeiramente importante.
Senhor Secretário Regional, mais uma vez, o Governo de V. Exa. prepara uma alteração orçamental mas mente descaradamente nas razões da alteração.
Já foi assim com o anterior orçamento rectificativo. Lembro que V. Exa. fez aprovar um aumento da autorização global dos avales com o pressuposto que a EEM tinha de dar mais garantias às suas entidades financiadoras mas, no final, percebemos todos que o que fazia ultrapassar o valor da divida indirecta já autorizada, eram os avales para as sociedades de desenvolvimento.
Enfim, nada de novo, trata-se da habitual cortina de fumo que norteia a política orçamental do governo.

Mas, como parece óbvio, coisa semelhante se passa com esta proposta: lê-se nos argumentos que o governo pretende adaptar o orçamento da RAM ao memorando da troika. Um argumento compreensível e defensável mas,
Senhor Secretário Regional,
não casa a “bota com a perdigota” : o orçamento rectificativo que estamos a discutir não reflecte o essencial das medidas da troika e muito menos persegue a filosofia que está subjacente ao memorando.
É um logro. Mais um para juntar às centenas de outros já oferecidos numa bandeja de prata a esta Assembleia e ao povo da Madeira.
Como já disse no inicio da intervenção, os tempos são distintos do final de 2010. Mas não são diferentes no seu conteúdo, mas sim apenas na intensidade dos problemas.
Senhor Presidente,
Infelizmente, o horror do diagnóstico económico, social e financeiro da Madeira não mudou. Os dramas da Madeira são os mesmo. Mas hoje, passados 8 meses da aprovação do orçamento de 2011 está tudo bastante pior.
No final de 2010 a Madeira estava à beira de um colapso económico e social, com responsabilidades financeiras que ultrapassavam o máximo do razoável, com desemprego insustentável e com a economia em cuidados intensivos.
Hoje, repito, está tudo bastante pior. Diga-se que parte do problema está precisamente nas propostas de opções orçamentais que nortearam o Orçamento da Região para 2011. Lembro, a propósito, o que referimos na altura sobre a referida proposta:
“A proposta de Orçamento para 2011 é a expressão do fracasso desta autonomia Jardinista. É o sinal de uma política aos tropeções. É o caminho para a consolidação do definhamento estrutural que a Região tem percorrido, enterrando, quase em definitivo, a esperança de um desenvolvimento equilibrado, integrador e harmonioso com as pessoas e a natureza.
É bom sublinhar que não é apenas o fim do ciclo de 4 anos desastrosos do PSD, que teve inicio num não menos desastrado logro oferecido aos madeirenses, como se estivesse a servir uma fria vingança àqueles que menos gostam, como aconteceu com as razões para as eleições intercalares de 2007.
Desde essa altura que o Dr. Jardim recalendariza e volta a recalendarizar um programa de 2004. Fê-lo quase tantas vezes como o grau de inutilidade e perversidade das ideias e propostas contidas nesse fóssil governativo.
Mas passados 4 anos, o estado da Região não podia ser mais próximo da calamidade e, mesmo assim, o PSD continua a recalendarizar o dito programa não mudando nada apesar de já nada ser igual ao longínquo ano de 2004.”
Senhor Secretário,
V. Exa. deve estar a pensar como é possível ter sido tão preciso e certeiro na análise. Como foi possível adivinhar que as vossas propostas iriam conduzir a Madeira, as suas famílias e as suas empresas para o período mais negro da sua história. O seu governo, o governo que V. Exa. faz parte, destruiu as bases de sustentação da nossa região. Conduziu a Madeira para a falência social e financeira.
Hoje pode-se dizer com segurança que a única coisa que mudou, desde o final do ano, foi a intensidade dos problemas:
- de 15 000 desempregados passamos para 20 000 e para a segunda maior taxa de desemprego do país
- de 600 Milhões de Euros (ME) de dividas às empresas por parte do governo regional passamos para 1000 ME
- de muitos pobres passamos para a região com risco de pobreza mais elevado a par da região do norte.
- de um rating da Moody’s igual ao dos Açores passamos para o rating pior da república, “o pior dos lixos”, e pior que o dos Açores
- de 6 000 ME de responsabilidades financeiras passamos para mais de 7 000 ME
- de um desarranjo total na saúde passamos para o descalabro efectivo no sector
- de uma situação de muitas falências, passamos para a pior proporção de falência do país
- de um risco empresarial elevado passamos para o maior risco empresarial do país
- tudo isto e ainda:
o uma das piores regiões do país em termos de coesão social
o a 25ª região em 30 em termos de índice de desenvolvimento regional
o a manutenção dos piores resultados na inovação e desenvolvimento
o a persistência dos dramáticos resultados na educação
Já sublinhamos várias vezes, mas voltamos a referir: este diagnóstico é o resultado de políticas orçamentais desastradas e assassinas para o futuro dos madeirenses.
Portanto, para que serve mais este arranjo atabalhoado. O que ganham os madeirenses com esta iniciativa frouxa e descabelada feita a 3 meses das eleições e, ainda por cima com menos de um mês depois da última alteração orçamental?
Senhor Secretário tudo isto é quase provocação de mau gosto e V. Exas é o protagonista principal.
Mas convenhamos, se a razão era a troika onde estão as medidas efectivas de contenção da troika? Onde está o plano de reestruturação do sector empresarial? Onde está a redução das transferências para as empresas falidas? Onde está o encerramento de empresas públicas inúteis. Onde está a redução de chefias?
Senhor Secretário Regional,
V. Exa. está a fazer um miserável papel de um emissário comprometido com um louco, ou até com muitos loucos, ou mesmo que não haja nenhum maluco,
daqueles que mexe cordelinhos e que rabisca orçamentos em seu nome, como se fizesse o rol da mercearia em cima do joelho, há muitos cúmplices no Governo e nesta ALRAM.
Mas, ninguém ficará imune ás suas responsabilidades. A história fará o seu percurso e não deixará de sublinhar todas a verdade da pouca vergonha que tem sido as opções do Governo do PSD.

Esta proposta de orçamento rectificativo é mais uma adenda para a lista de coisas inúteis que conduziram à situação de definhamento que nos encontramos. Mas, além disso, é sobretudo a prova da falácia que é a política orçamental do PSD.
O Governo de V. Exa. acantonou os madeirenses num buraco tão profundo que o caminho da salvação é cada vez mais estreito.
Senhor Secretário Regional,
Perante esta lamentável situação, leve uma mensagem ao seu governo, mas a todo sem excepção:
-peça para arrumarem as suas coisinhas e saírem da governação da Madeira. É o único caminho para a salvação dos madeirenses. Se V. Exa. ainda tem coração e sentimentos não hesite neste esforço.
Realmente, não era sequer possível imaginar que meia dúzia de pessoas poderia fazer tanta asneira tão concentrada e durante tanto tempo.
Andamos a avisar há muito anos das vossas travessuras perigosas que comprometem o futuro de todos nós e daqueles que nada sabem do que se passa nos corredores do poder regional.
Gente inocente, trabalhadora, dedicada e honesta. Uma sociedade convicta e determinada mas completamente enganada e que tem sido obrigada a conviver com uma governação e um poder quase indigente.
Está na altura de dizer basta. Está na altura de acabar com as intricadas soluções sempre suspeitas, sempre frágeis, sempre promíscuas, sempre tendenciosas.
O escuro das cavernas em que a vossa governação transformou a nossa terra, esconde a verdadeira face de um poder recheado de tiques, preconceitos, crispações, perseguições e maldades. Nunca estivemos tão perto da cleptocracia. Nunca estivemos tão perto da infantilização da política: onde existem bodes expiatórios para todos os problemas mas quase nenhuma solução. Nunca estivemos tão perto do desespero dos cidadãos. Nunca estivemos tão perto do abismo.
Enquanto isso, o PSD dá ares de um partido esbugalhado perante a situação de crise profunda que ele próprio criou. Está apático, confuso, focado nos problemas internos e liderado por gente sem energia mas, sobretudo, sem coração e sem educação. Pessoas que agarraram-se ao poder para se manterem vivas, mesmo que isso signifique arrasar o que resta de esperança dos madeirenses. Os mesmos que votaram neles e que precisam de projectos de esperança, de solidariedade e confiança.
Mas,
Senhor Presidente
Falemos sério, falemos claro e falemos sem hesitação, ninguém pode esperar mais nada do PSD. Ninguém pode acreditar que se pode criar algo de novo em cima de farrapos velhos, sujos e ásperos.
Desenganem-se os que ainda acreditam numa regeneração e que tudo fazem para recuperar o moribundo!
O PSD é um partido quebrado e desesperado. Um partido sem alma e coração mas com azia profunda, ódios intangíveis, má fé, irresponsabilidade e uma montanha de desfaçatez.
Pode-se perguntar o que é que isso pode interessar.
Eu clarifico:
se a concentração e determinação do maior partido da Assembleia não é na agenda de problemas que os madeirenses estão confrontados, é natural que a situação económica e social só tenha tendência a piorar.
Pode ser apenas dos nervos das eleições e do desconforto para o debate de propostas sérias e ponderadas, mas os sinais são preocupantes e anunciam tempos complexos:
Em menos de um mês e a poucos dias das eleições não ouvimos nem propostas nem sequer intenções. Vimos e ouvimos coisas típicas de um “estado de sitio”: um líder parlamentar a vociferar impropérios a jornalistas sem nenhum desdém; vimos e ouvimos insultos, ofensas sistemáticas e continuadas desse mesmo líder nesta mesma casa; observamos uma vertigem vingativa e provocadora até entre os seus pares da parte dessa mesma liderança.
Mas não se trata de um caso isolado. Ao mesmo tempo, sucedem-se as explosões verbais insultuosas acompanhadas de movimentos esbracejantes do próprio líder do partido. Reflectindo um sentido quase psicopático de quem vai acumulando vitimas com o seu entusiasmo de cacique principal.
Mas, ao mesmo tempo, também esbraceja para dentro do partido mandando calar os seus dirigentes, que se encolhem sem hesitação, de modo a salvaguardar o lugar que acumulam ao longo de 35 anos, numa obsessão que não deixa margem nenhuma para acreditar que este partido tem gente capaz de se regenerar.
Assim, em vez de estarmos a discutir os problemas de fundo da Madeira. Em vez de estarmos a trabalhar sobre de que forma podemos contornar os efeitos do memorando da troika, com que medidas compensatórias, ou como moderar algumas das más medidas do programa PSD/CDS na Madeira, o PSD entretém-se com pensos rápidos e remendos inúteis.
Assim, em vez de reunir esforços e energias para uma mudança determinada, de modo resolver a loucura dos últimos anos, o PSD tem vindo a mexer-se sofregamente para parecer vivo, depois de tantos anos de psicopatia social, tornando a vida dos madeirenses num “oceano” de problemas.
Quando precisamos de uma estratégia para salvar os madeirenses no aperto que o PSD nos meteu a todos. Eis que apresentam-nos alterações orçamentais cujas consequências principais são manter a austeridade sobre os cidadãos e empresas e deixar o essencial da máquina do governo do PSD exactamente como está: não se mexe nos exagero de chefias, não se mexe no desperdício junto das empresas públicas, não se mexe nas mordomias e excessos da administração e, sobretudo, nas administrações das empresas públicas, não se mexe nos milhões de euros transferidos para as sociedades de desenvolvimento, não se mexe nos modelos de concessão oferecidos ao amiguismo habitual, não se mexe no exagero de conselheiros do Governo Regional, não se mexe nos investimentos públicos insensatos, não se mexe nos eventos supérfluos. Não se mexe em nada disto. Mas, em contrapartida, não se hesita a mexer nos rendimentos das pessoas e nas suas remunerações!
Senhor Presidente
Senhor Secretário
Senhoras e Senhores deputados
Muito se podia estar a fazer pela recuperação da Madeira. Era possível encontrar um pacote de medidas capazes de equilibrar a necessidade de contenção de despesa com as necessidades das empresas e famílias madeirenses, sem colocar em causa a competitividade da economia e a função social que um governo responsável deve ser capaz de desenvolver.
Era possível usar os instrumentos da autonomia para redistribuir a austeridade que o Governo PSD/CDS impôs a milhares de madeirenses de forma totalmente injusta. Era possível assegurar medidas que distribuíssem a austeridade no sentido mais certo onde o despesismo do governo devia estar em primeiro plano e não, como está a suceder, com a beneplácito do governo do PSD M, em cima da das famílias que já não suportam mais sacrifícios e que vivem numa região pobre.
Não se trata apenas de uma oportunidade perdida. Trata-se também a uma visão inquinada que o PSD M tem das soluções para a crise. Uma solução que está focada não no interesse dos madeirenses mas na manutenção do poder.
Disse

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