terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O ORAM 2010


Exmo. Senhor Presidente
Exmo. Senhor Secretário
Exmos. Senhoras e Senhores Deputados

Discutimos hoje esta proposta de Orçamento para 2010 numa altura particularmente relevante: passaram-se mais de dois anos desde as últimas eleições provocadas ostensivamente por Alberto João Jardim.
Os resultados dessa atitude são desastrosos e deviam indignar de vergonha o partido do poder. Na verdade, as alegadas razões para a demissão, como se sabe, não vieram a ter uma correspondência na prática, por uma lado, e, por outro, nada foi alcançado através desta atitude irresponsável e inconsequente. Antes pelo contrário, estamos pior do que estávamos em 2007, em todos os aspectos:
. mais desemprego,
. mais falências,
.mais risco empresarial,
. mais endividamento,
 menos cooperação institucional,
 mais pobreza,
 mais desnorte. Muito mais desnorte e desgoverno.
Por isso, estamos perante mais um momento parlamentar recheado de profundo significado político, não tanto pela análise do orçamento, quase sempre um despique inconsequente, em que a maioria do PSD exalta a governação Jardinista ao ponto de deformar a realidade e, ainda por cima, tem o desplante de urdir soluções quase sempre desconexas com as necessidades das empresas e das famílias madeirenses.
Mas, sobretudo, porque o ciclo social-democrata, e em particular o governo regional do PSD, passa por turbulências insustentáveis que ameaçam   expor ostensivamente o regabofe governativo.

Senhor Secretário das Finanças,
Com esta proposta de orçamento para 2010 a Madeira pode concorrer, sem hesitação, à melhor montra para a pior governação.
Mas importa referir que nada disto é estranho.
A táctica grotesca do PSD de eleger-se a si próprio defensor dos madeirenses e a outros apelidar de partidos traidores (não a todos, sublinhe-se em abono da verdade), numa dicotomia de bons e maus, própria dos regimes totalitários,  esconde o que de mais infame caracteriza o PSD Madeira:
um partido conspirador;
hábil a criar fantasmas;
 forte a arrastar incautos;
 persecutório aos que o criticam;
 decisivo a impor, sem hesitações, os discursos oficiais do regime em prol do poder mas, quase sempre, contra os interesses dos madeirenses, conforme se percebe pela desfaçatez deste orçamento   
Neste contexto, o orçamento para 2010 é um mero exercício de retórica política que sustenta as opções tresloucadas de um governo habituado a gastar muito e a gastar mal,
 a pensar pouco e sem profundidade estratégica e
 a pedir demais, sem critério ou ponderação.
Por isso, 40% das receitas previstas no orçamento (cerca de 678 milhões de euros) são endividamento (230 milhões - directa + 290 milhões - avales) e operações extraordinárias (158 milhões) que, no limite, também configuram endividamento.
Por isso, a divida para 2010 é uma espécie de comboio a alta velocidade e em perfeito descontrole:
 a dívida directa, a indirecta,
 a dívida do Sector Público Empresarial (não avalizado),
 a titularização de crédito,
 as operações da PATRIRAM,
 os Encargos Assumidos e Não Pagos
 e as operações extraordinárias, como a Via Litoral e Via Expresso, estas duas consideradas endividamento efectivo pela análise do Tribunal de Contas,
 já ultrapassam largamente os 5 000 milhões de euros, mais 110% do PIB.
 Este é um número quase trágico, sobretudo se tudo se mantiver como está.  E todos sabemos, o que isso significa do ponto de vista técnico e do ponto de vista político.
Mas o alarme pode ser ainda mais vigoroso se, em meados de 2010, o governo der seguimento a uma vontade esdrúxula, quase estravagante, mas volto a sublinhar pouco responsável, ao concretizar mais um empréstimo de 500 milhões de euros no quadro da operação Via Madeira.
Serão outros tantos milhões que engrossarão, ainda mais, a dívida da Região e obrigarão ao aumento severo das responsabilidades plurianuais do governo (fora os encargos da dívida directa) que, só em 2010, será de 218 milhões mas em 2012 já estão inscritos 317 milhões.
Com a operação Via Madeira pode-se aumentar 75 milhões em 2011 e mais 75 milhões em 2012, e assim sucessivamente por mais 23 anos.
Ou seja, o orçamento da região está hipotecado não apenas pela dívida directa e indirecta mas por estas operações ruinosas e levianas que retiram margem de manobra para encontrar soluções à emergente calamidade social.
 Só para precisar, e para que não restem dúvidas:
sem a Via Madeira, em 2010 e 2011, 15% do orçamento vai directamente para os cofres das vias expresso e litoral e em 2012 já são quase 25%. Com a via Madeira, e com mais 500 milhões de endividamento, o Orçamento da Região ficará hipotecado por 25 anos, em mais de 35%.
Ora, numa região que pede 40% ao exterior, e o Senhor Secretário Regional da Finanças ainda tem o desplante e a ousadia de falar em orçamento equilibrado, não demorará o dia que o governo quererá (como já aconteceu) que a oposição defenda empréstimos para o pagamento dos fornecedores destas operações levianas e descontroladas.
Ou seja, o problema dos fornecedores esconde o problema do garrote governativo. Ignorar tudo isto é passar uma esponja sobre os erros cometidos nas opções de investimento que não têm, de maneira nenhuma, a concordância do grupo parlamentar do PS Madeira. 
Senhor Secretário das Finanças,
As receitas próprias da Região são significativas embora nem cheguem para pagar o funcionamento da máquina da administração pública.
Além disso, como habitualmente, este orçamento, ignora as previsões económicas, não revendo em baixa as receitas fiscais contidas na proposta. Já em 2009 ignorou esta circunstância. O PSD fez ainda pior, votou contra a proposta de rectificativo do PS Madeira que alterava muitas das opções de despesa permitindo um melhor amortecimento da crise. 
Mas, voltando ao orçamento para  2010, num tempo difícil em que as opções do passado por parte do PSD empolaram os efeitos gerais da crise internacional, esperávamos uma atitude sóbria e de bom senso do Governo de que V. Exa. faz parte.
Esperávamos uma redução de impostos que oferecesse à política fiscal um sentido estratégico e uma orientação social.
Estratégico, no quadro do sector privado, de forma a reforçar o emprego e potenciar a criação de riqueza;
uma orientação social sobretudo no quadro das famílias, de modo a diminuir o peso fiscal que contribui para afogar ainda mais o orçamento familiar.
Não pedimos nada de novo. Pagamos em média mais que 600 euros por ano que os açorianos. Era Possível baixar o IRS, baixar o IRC, e ir muito mais além na política fiscal, introduzindo todas as possibilidades disponíveis na LFR em prol do desenvolvimento sustentável, colocando a economia ao serviço das pessoas.
 Era desejável e é possível mas não com um governo acomodado, pouco criativo,  pouco reformador e com pouca competência na acção governativa.
O que este governo do PSD tem de excesso de falatório inconsequente tem de défice na actuação  efectiva.    



Senhor Presidente
Senhor Secretário
Senhoras e Senhores Deputados
Este orçamento apresenta um saldo primário negativo na ordem dos 136 milhões.
 Isto significa que vivemos bastante acima das nossas possibilidades e que já estamos a pedir dinheiro para pagar dividas antigas.
 Estamos perante o sindroma do novo pobre: uma região à beira da bancarrota, num verdadeiro colapso financeiro.
Se a isto juntarmos as necessidades de recursos “alheios” em cerca de 40%, como já referi, os encargos crescentes com juros da divida, os encargos com as operações extraordinárias que configuram endividamento e um plano de investimentos em que mais de 30% são dividas contraídas e não pagas, portanto de projectos virtuais, a governação do PSD é um descalabro alarmante.
Senhor Secretário Regional, permita que lhe diga, que se V. Exa. fosse um chefe de família era, estou certo disso, frequentador assíduo do consultório anti-crise da DECO, dada a situação de falência eminente das contas regionais.
Mas não é tudo, Senhor Secretário:  V. Exa. tem a desfaçatez de dar indicações no seu discurso de que este orçamento promove a redução da despesa, designadamente a despesa corrente. 

Senhor Secretário das Finanças
V. Exa. em 2007 disse o seguinte, e cito: “Estes números (o das despesas) traduzem a indesmentível opção do governo na contenção dos gastos de funcionamento”.
Senhor Secretário,  sabe qual foi o resultado? Olhando para a execução orçamental de 2007, vemos que as despesas correntes não só não se contiveram como aumentaram 12,1%, quase 100 milhões de euros.
Ora, o mesmo se passou em 2008 e sabe-se lá o que se passará em 2009. Sendo, obviamente, quase certo que a previsão para 2010 de redução da despesa não passa de uma falácia, de uma mentira até porque a despesa e o desperdício não diminui por decreto.
Mas pior,  não se conhecem nem decretos nem iniciativas reformistas na acção governativa do PSD sobre esta matéria.
Há, assim, nesta proposta de orçamento do PSD, um vício estrutural endémico, para não dizer patológico,  de apresentar como um suposto equilíbrio o que está totalmente desiquilibrado. Uma tentativa de mostrar a subir o que efectivamente desce e a descer o que todos sabemos que cresce.
Esta tendência, ou este traço que caracteriza a falta de seriedade orçamental não é nova, é sistemática e, principalmente, é coerente com a natureza panfletária que caracteriza o actual governo do PSD-M, que nasceu de uma mentira, em 2007, que permanece numa ilusão e há-de acabar num golpe de mágica.
Mas este simulacro de orçamento não é neutro para a economia e para as pessoas. De algum modo, esta proposta envolve-nos a todos numa teia gigantesca: 
. de opções de política económica (ou mesmo de investimentos) disparatadas;
. de interesses mascarados e perversos que condicionam decisivamente a recuperação empresarial e o combate ao desemprego;
. de prioridades destituídas de bom senso e de coerência na, necessária, defesa de interesses comuns;
. de métodos de relacionamento institucional que roçam os insultos mais profundos e as calúnias mais pérfidas, atirando a capacidade  e influência negocial, aspecto essencial de um governo cheio de dependências (desde logo a de carácter financeiro),  para uma zona de alto risco, pelo elevado prejuízo que indicia;
.de receitas duvidosas e de caminhos tortuosos para o financiamento de um mirabolante plano de actividades onde a despesa fútil, inútil, imponderada, insensata e até em alguns casos virtual, ocupa um lugar de privilégio.
. de endividamento destemido mas irresponsável, não pela ausência de necessidade de dinheiro mas pela origem da necessidade: provém de despesas e investimentos displicentes e irreflectidos.

Senhor Presidente
Senhor Secretário
Senhoras e Senhores deputados

Vale a pena aprofundar algumas destas óbvias constatações:
Em primeiro lugar, as opções políticas do PSD, inseridas neste orçamento, ou simplesmente implícitas, resvalam para um sentido desnorteado da gestão pública e asseguram a continuidade das fragilidades e artimanhas do governo  do PSD.
Só alguns exemplos:
.as desorçamentações caminham a um ritmo alucinante desviando do controle orçamental muitos milhões de euros que, mesmo fora da esfera do orçamento, exigem compromissos da Região e resultarão em responsabilidades futuras junto de todos os madeirenses.
Por isso, as transferências correntes e de capital não param de crescer (são 534 milhões e correspondem a cerca de 35% da despesa total)  para alimentar um monstro paralelo ao orçamento que pomposamente chamamos Fundos e Serviços Autónomos (FSA) e para Empresas Públicas. Este descalabro não foge à atenção do tribunal de contas que por várias vezes alertou para a incoerência de criar  FSA que fazem menos por mais.
Mas não é tudo.
. Se há erros que saltam à vista de todos, são as opções das sociedades de desenvolvimento que continuam penalizar o orçamento. Depois de empréstimos de 500 milhões de euros, os investimentos não geram receitas nem para pagar o seu funcionamento. A Região  transferirá em 2010 cerca de 6 milhões de euros para as ditas sociedades. Ora, a partir de 2012 começa o famigerado  pagamento do empréstimo efectuado a estas sociedades. Se não houver libertação de meios, como parece óbvio para todos, para pagar despesas correntes, quem pagará a divida?
Senhor Secretário das Finanças
Repito o lhe disse na discussão na 2ª comissão: somos favoráveis ao endividamento para financiar investimento amigo do desenvolvimento, que crie emprego e que seja sustentável.
Mas este tipo de endividamento e de investimento a que o PSD submete o futuro da região é inimigo do desenvolvimento e dos madeirenses: não cria emprego, não se sustenta a si próprio e exige do orçamento verbas para o seu funcionamento. Pior ainda este investimento afastou o investimento privado,
Estamos, pois, no pior dos mundos e com esta governação  o PSD coloca elefantes brancos às costas de todos os madeirenses.
Ainda no campo das opções, só mais um exemplo:
  salta à vista a falência técnica da APRAM e as transferências do governo para a empresa gestora dos portos da RAM, sem qualquer  exigência de contribuição por parte do único operador privado, que goza de um monopólio administrativo oferecido pelo GR, impondo custos elevados de transportes e beneficiando de lucros obscenos e sem contrapartidas para a RAM.
Mas mais hilariante, e ainda muito recente, é a noticia que dá conta do aumento das taxas para pagar o passivo da APRAM, medida apresentada  pela Senhora Secretária do Turismo e Transportes.
Senhor Secretário Regional das Finanças, o beneficiário principal da operação portuária não paga um tostão, mas pagamos todos nós os seus lucros e os devaneios deste governo de que V. Exa. faz parte.
 É a justiça obtusa de um governo que se deixa alucinar pelos seus truques, que alucina uma certa opinião publicada que se deixa ludibriar, consciente ou inconsciente, mas que, mais tarde ou mais cedo, vai bater de fundo com a realidade.  
Em segundo lugar, e quanto a interesses mascarados, vale a pena sublinhar que a economia regional anda quase sempre a reboque de interesses do regime laranja e da sua propaganda irresponsável que põe em causa o interesse regional:
perdemos 500 milhões da UE porque o governo não soube ou não quis colocar em cima da mesa o efeito Zona Franca, perderam os madeirenses, ganharam os interesses privados; temos os transportes mais caros da Europa porque o governo é incapaz de reestruturar a operação portuária, perdem os madeirenses, ganham alguns interesses privados;
 somos confrontados com um turismo a reboque de do time sharing e da frágil qualidade porque o governo é incapaz de defender os interesses do destino; perdem os madeires ganham alguns interesses privados.
 Ou seja: digamo-lo de um forma clara e frontal: o alto Interesse Regional é inverso ao interesse mesquinho   do governo do PPD e sectores que vivem dependentes desse governo.  
Em terceiro lugar,
Senhor Secretário das Finanças,
 algumas notas para a sistemática inversão de prioridades de investimento que o seu governo pratica, repare com atenção, promove: campos de futebol em vez de hospitais; promenades em vez de um complemento solidário de idosos; túneis em vez de reforço das condições de diversificação da economia; financiamento de empresas públicas falidas em vez de reforço da promoção do turismo; campos de golfe em vez de redução das taxas aeroportuárias; desporto profissional com custos soberbos e retornos sofríveis; em vez do reforço da educação; investimento público em restaurantes (mais de 70 nos últimos anos!) em vez de suporte incondicional ao investimento privado.
Em quarto lugar, este orçamento não indicia um novo quadro de relacionamento institucional, quando o que se impunha era uma nova forma de encarar as necessidades financeiras da Região e estabelecer um novo patamar negocial, assente nos argumentos e não na pressão insultuosa.
Deste ponto de vista, estamos  numa espécie de“ mato sem cachorro”, permita-se-me a expressão. O PSD está obcecado pela redução de menos de 1% da LFR, fazendo disso o único trunfo político que sobrou do descalabro governativo pós-2007, papagueando pateticamente resultados contraditórios, gozando, mesmo assim, de uma impunidade intolerável.
Mas ignora ostensivamente a necessidade de garantir que a RAM poderá e deverá recuperar fundos da UE a partir do quadro 2014-2020. Pior, finge não saber que a Madeira pode ficar definitivamente no grupo das Regiões objectivo 2 e deixar de auferir recursos da UE sendo totalmente substituídos por fundos nacionais, implicando, por isso, uma atenção renovada  à LFR, longe do oportunismo e demagogia que temos observado.
Por tudo isto, caminhamos todos para o abismo a que nos conduz a governação do PSD e, se tudo se mantiver como está, não tarda muito acabaremos todos encarcerados na divida e no garrote governativo.
Senhor Presidente
Senhor Secretário
Senhoras e Senhores Deputados
Este orçamento não é um documento baseado nos princípios básicos da ciência económica. Se fosse, estava chumbado, sem dó nem piedade.
Esta proposta é um folhetim político que nos obriga a nos indignarmos severamente pelo que ele representa e não termos nenhuma complacência a favor de um governo prevaricador e lesivo do interesse comum.
Esta proposta de orçamento retrata bem um governo dominado pelo vício patológico de enrolar, enganar os outros e servir-se ostensivamente dos cidadãos numa provocação miserável onde todos devem ser  peças de um jogo perverso. 
Um jogo, daqueles que arrastam as massas manipuláveis para exaltar um discurso mitificado, grosseiro, mas que, objectivamente só tem para dar promessas mirabolantes, todavia de  consequências tenebrosas para o bem comum.  
Não o permitiremos e tudo faremos para construir um futuro em que nada disso seja possível. A Madeira tem solução, este Governo é que já não tem remédio.

Tenho dito
discurso proferido por mim, em nome do grupo parlamentar do PS M na discussão do ORAM 2010









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